Recentemente, uma notícia ganhou destaque nacional: um professor do Distrito Federal foi agredido dentro da escola por um pai que se irritou após o docente pedir que sua filha guardasse o celular durante a aula. As câmeras de segurança registraram o momento em que o homem invade o colégio e desfere socos e chutes no professor, de 53 anos. As imagens são duras, mas o que mais chama atenção não é apenas o ato em si, é o que ele simboliza.
Por trás dessa violência, existe algo mais profundo acontecendo. Algo que não se resume à cena, mas que fala sobre o mal-estar emocional que atravessa a sociedade contemporânea.
A violência como sintoma do desamparo
Na psicanálise, compreendemos que toda ação carrega um sentido inconsciente. O ato agressivo, especialmente aquele que parece “sem motivo”, é muitas vezes o modo como o corpo tenta expressar uma dor que não encontrou palavra.
O pai que agride o professor não está reagindo apenas a um pedido. Ele reage a algo interno, a uma sensação de impotência, de perda de controle. Em algum nível, sente que sua função de pai foi questionada, que sua autoridade foi ferida. Mas o que explode, de fato, é o desamparo, esse sentimento de não saber o que fazer com o próprio sofrimento.
Vivemos tempos em que a frustração parece intolerável. Qualquer limite é visto como ofensa. O resultado disso é uma sociedade emocionalmente exausta, onde o ato substitui a palavra.
A crise da autoridade simbólica
Esse episódio não é isolado. Ele reflete o colapso da autoridade simbólica, aquela que outrora sustentava o respeito nas relações entre pais, professores e filhos.
A escola, que deveria ser um espaço de transmissão e escuta, se tornou muitas vezes um campo de conflito. O professor, antes reconhecido como figura de referência, hoje precisa se defender física e emocionalmente.
Freud já falava, em O mal-estar na civilização, sobre a tensão inevitável entre o desejo individual e as normas sociais. Quando essa tensão deixa de ser mediada pela palavra, surge o caos. E é esse caos que estamos testemunhando, nas escolas, nas redes sociais, nas famílias.
Quando a palavra falta, o ato toma o lugar
Na essência, o que faltou naquele episódio foi diálogo. Faltou a possibilidade de falar, de escutar, de elaborar o conflito.
Quando o diálogo não acontece, o corpo age e o ato se torna uma tentativa desesperada de dar conta de algo que deveria ter sido dito.
A psicanálise propõe o caminho inverso: transformar o ato em palavra. Falar sobre a dor é o primeiro passo para curá-la. A escuta, nesse sentido, é mais do que uma técnica é um ato de humanidade.
O que esse caso nos ensina
Esse episódio é um retrato doloroso de uma sociedade que precisa reaprender a se escutar.
O professor não é o inimigo. Ele representa a figura do saber, do limite e da transmissão, pilares essenciais para a formação psíquica e social.
E o pai, antes de ser um agressor, é alguém tomado por um sofrimento que não conseguiu nomear.
É por isso que precisamos reconstruir pontes entre família e escola, entre pais e filhos, entre emoção e razão.
Enquanto não aprendermos a falar do que sentimos, continuaremos a ver o corpo gritar em forma de violência.
Para refletir
O episódio do professor agredido é mais do que uma tragédia isolada. Ele é um espelho.
Um espelho que nos mostra o quanto o silêncio pode ser perigoso e o quanto precisamos, urgentemente, resgatar o poder da palavra.
Falar é se responsabilizar por si.
Escutar é reconhecer o outro.
E talvez seja exatamente disso que este tempo mais precisa: de escuta, de respeito e de humanidade.
Assista agora ao vídeo completo no canal O Divã Aberto e venha pensar comigo sobre o que esse caso realmente nos ensina.