Tem dias em que tudo dentro da gente está tão comprimido que até respirar parece perigoso. Como se qualquer palavra, gesto ou lágrima pudesse abrir uma represa de coisas que a gente segurou por tempo demais.
Você já sentiu isso? Aquele peso de estar cheio de emoções que não couberam em lugar nenhum. E aí, em vez de gritar, você se cala. Em vez de chorar, você finge que está bem. Em vez de dizer que está cansado, você veste um sorriso e segue.
Esse silêncio que nasce para proteger pode virar uma armadilha. E aos poucos, a gente começa a se desconectar da própria verdade emocional. Vira hábito. Vira defesa. Vira um modo automático de existir.
Na psicanálise, chamamos esse silêncio de defesa contra o desamparo. É como se a mente dissesse: se eu não demonstrar fraqueza, ninguém vai me atacar. Se eu fingir que está tudo certo, talvez eu sobreviva.
Mas o corpo sente.
E começa a gritar de outras formas. A ansiedade cresce, o sono desaparece, o estômago dói, a respiração encurta, os relacionamentos esfriam. Porque o que não é dito se manifesta de outros jeitos. E a linguagem do inconsciente nunca falha.
Muitas vezes, aprendemos desde pequenos que expressar dor é fraqueza. Que reclamar é feio. Que sentir demais é exagero. E assim, o afeto vira fardo, e a alma começa a engolir o choro.
Mas a verdade é que ninguém é forte o tempo todo. E tentar sustentar essa imagem de fortaleza pode nos afastar de uma vida mais leve, mais verdadeira, mais íntima.
A psicanálise não vem para julgar, nem para dar receitas de felicidade. Ela propõe escuta. Uma escuta que acolhe sem interromper. Que deixa espaço para o não-sabido. Que aceita a contradição e o conflito como parte da condição humana.
Porque às vezes, tudo que a gente precisa é ser escutado de verdade. Sem pressa. Sem correção. Sem medo de ser mal interpretado.
O silêncio tem seu valor, claro. Mas quando ele vira regra, e não escolha, é hora de perguntar: que voz dentro de mim eu estou calando? Que dor eu estou tentando esconder até de mim mesmo?
Falar dói. Mas não falar dói mais.
E esse é o convite que deixo aqui hoje: encontre um lugar onde você possa se ouvir sem medo. Pode ser na terapia, numa escrita, numa conversa sincera. Porque todo desabafo é um reencontro com a parte de nós que ainda insiste em sentir.
Que você possa, aos poucos, soltar a armadura e redescobrir sua voz. Mesmo que seja trêmula no começo. Mesmo que venha entre lágrimas. Ainda assim, será sua verdade pedindo espaço para respirar.
Se esse texto tocou em você, talvez seja hora de dar voz ao que está calado. No blog O Divã Aberto, você pode encontrar reflexões, cartas e artigos que acolhem seus silêncios e te ajudam a ressignificar sua dor. Volte aqui sempre que precisar se sentir compreendido.
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