A verdade que ninguém te contou sobre ser forte demais por muito tempo

 

"Você não é depressivo. Você está colapsado por tentar ser forte o tempo todo." (Desconhecido)

Existe uma diferença silenciosa e profunda entre estar deprimido e estar emocionalmente colapsado. Essa diferença, muitas vezes ignorada, pode determinar o tipo de cuidado que oferecemos a nós mesmos. Vivemos em uma cultura que valoriza a força, o desempenho, a produtividade. Ser forte virou quase uma obrigação, e isso tem um preço alto. O preço de carregar o mundo nas costas enquanto o próprio mundo interno desmorona. A frase que inspira este artigo toca justamente nessa ferida: você não é depressivo, você está colapsado por tentar ser forte o tempo todo.

O que acontece quando você passa anos tentando manter tudo sob controle? Quando engole o choro, disfarça a raiva, faz piada da própria dor e vive para atender as expectativas alheias? O que acontece quando sua vida se transforma em uma constante administração de crises, mas você continua sorrindo e dizendo que está tudo bem? O que acontece é que seu corpo e sua mente começam a gritar por ajuda. E como você aprendeu a não escutar esse grito, ele vem disfarçado de cansaço, de insônia, de apatia, de irritação, de isolamento. É aí que muitas pessoas pensam estar entrando em depressão.

Mas será mesmo?

Na visão psicanalítica, o sintoma tem sempre uma história. Ele não é um inimigo a ser combatido, mas um mensageiro a ser escutado. Quando alguém diz que está depressivo, pode haver muito mais por trás desse rótulo. Pode haver um eu que passou tempo demais tentando segurar a barra sozinho. Pode haver uma criança interior que nunca foi amparada, um adolescente que aprendeu a disfarçar a dor com sorrisos, um adulto que acredita que precisa ser perfeito o tempo todo para ser amado. Esse colapso emocional não é fraqueza. É o sinal de que sua alma não suporta mais o silêncio forçado.

Em um processo terapêutico, muitas pessoas descobrem que o chamado quadro depressivo é, na verdade, uma exaustão profunda. Um colapso por excesso de exigência, de autocobrança, de culpa, de medo de decepcionar. É o resultado de viver constantemente em alerta, tentando ser forte por fora enquanto por dentro tudo pede colo, cuidado, pausa. O sujeito que tenta o tempo todo não demonstrar fraqueza geralmente está vivendo sob o domínio do supereu, aquela instância psíquica que cobra, que julga, que exige perfeição.

A psicanálise convida esse sujeito a fazer algo revolucionário: parar. Parar de fingir que está tudo bem. Parar de tentar ser exemplo o tempo todo. Parar de se violentar emocionalmente em nome de uma imagem idealizada de força. Porque, no fim das contas, a verdadeira força está em poder admitir a própria fragilidade. Em poder dizer com honestidade: eu não estou bem. Eu preciso de ajuda.

Isso não é rendição. Isso é coragem.

A dor psíquica que vem desse colapso por excesso de força se expressa de muitas formas. Às vezes vem como um vazio que não se preenche. Outras vezes como uma irritação constante, uma impaciência com tudo e todos. Pode vir como uma vontade de desaparecer, de dormir por dias, de não ter que lidar com mais nada. Pode vir como esquecimento, dores físicas, crises de ansiedade, ou até como doenças recorrentes. O corpo fala o que a alma já não consegue sustentar.

E tudo isso poderia ser prevenido se, lá atrás, tivéssemos aprendido que não precisamos dar conta de tudo. Que não precisamos provar valor o tempo inteiro. Que ser humano é, por definição, ser limitado. Ter dias ruins. Ficar triste. Sentir medo. Chorar. Errar. Precisar dos outros. O problema é que muitos de nós crescemos em ambientes onde mostrar fragilidade era visto como defeito. Onde fomos educados a esconder as emoções e a superar tudo rapidamente. Onde aprendemos que só seríamos valorizados se fôssemos fortes, independentes e inabaláveis.

Essa narrativa precisa ser revista. E ela só muda quando temos coragem de nos escutar com mais honestidade. Quando olhamos para o que estamos vivendo e conseguimos perceber: não estou em depressão porque sou fraco. Estou colapsado porque me obriguei a ser forte tempo demais.

Esse colapso pode, paradoxalmente, ser o início de um reencontro com quem você é de verdade. Porque quando a armadura quebra, quando as máscaras caem, quando não há mais forças para sustentar as expectativas externas, então o verdadeiro eu pode finalmente emergir. E esse eu não quer ser perfeito. Quer ser aceito. Quer ser escutado. Quer ser amado sem precisar fingir que está sempre bem.

A função do psicanalista nesse processo é oferecer um espaço onde isso possa acontecer. Um espaço de escuta sem julgamentos, onde o sintoma é acolhido como mensagem e não como falha. Onde o colapso é compreendido como sinal de vida, não como doença. Porque só colapsa quem ainda está tentando. Só entra em crise quem, de algum modo, ainda deseja viver com mais verdade.

Talvez você esteja vivendo exatamente esse momento. Talvez esteja cansado de ser forte. Cansado de sorrir enquanto se sente quebrado por dentro. Cansado de dar conta de tudo e de todos, menos de si mesmo. Se esse texto te tocou de alguma forma, então talvez seja hora de se olhar com mais compaixão. De baixar a guarda. De admitir que precisa de apoio. E de começar uma jornada de reconexão com aquilo que você sente, deseja e precisa.

Ninguém precisa carregar o mundo sozinho.

O cuidado com a saúde mental começa quando a gente decide parar de fingir. Quando escolhe dar voz ao que está calado. Quando percebe que não precisa ser forte o tempo inteiro para ser digno de amor.

Se você sente que chegou ao seu limite, saiba que isso também pode ser o início de um novo começo.

No blog O Divã Aberto, você encontra reflexões profundas e um espaço seguro para entender o que se passa dentro de você. Continue navegando pelos nossos textos, compartilhe com alguém que precise, e se quiser ir além, considere começar seu processo terapêutico. Sua dor merece escuta. Seu colapso merece cuidado. Você merece recomeçar.

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