Transforme o ambiente, e não apenas o sintoma!

 



Na natureza, quando um ser vivo adoece, nossa primeira atitude é olhar para o ambiente. Um peixe doente nos leva a tratar a água. Um cão agitado nos faz refletir sobre seu espaço. Uma planta murcha pede sol e água. Uma árvore que não dá frutos exige atenção ao solo. Mas quando o humano adoece, com frequência, a resposta imediata é medicá-lo, ignorando o ambiente que o cerca.

Essa analogia, simples e poderosa, nos convida a uma reflexão profunda: até que ponto o sofrimento humano é expressão de um ambiente adoecido?

Na psicanálise, especialmente em Freud e Lacan, compreendemos que o sujeito é estruturalmente moldado em sua relação com o outro. O ambiente não é apenas um espaço físico, mas também simbólico, composto por vínculos afetivos, linguagem, cultura, história e repetições inconscientes.

Quando alguém manifesta sintomas como ansiedade, depressão ou angústia, não devemos reduzir esse sofrimento a uma falha interna ou a um desequilíbrio químico isolado. É fundamental perguntar: "O que há de tóxico no entorno deste sujeito?"

Freud já apontava que os sintomas são uma forma de compromisso entre os desejos inconscientes e as exigências da realidade. Muitas vezes, o ambiente seja familiar, profissional ou social, oprime o desejo e cala a subjetividade. A angústia, então, se instala como resposta ao que não pode ser dito.

Por exemplo, um jovem que desenvolve crise de pânico ao ir para o trabalho pode estar expressando, inconscientemente, a violência simbólica que sofre naquele ambiente. Medicá-lo pode ser necessário, mas não suficiente. É preciso escutar o que esse corpo está tentando dizer.

Lacan afirma: "O inconsciente é estruturado como uma linguagem." Assim, os sintomas falam, ainda que em códigos. Quando ignoramos o contexto em que uma pessoa vive, silenciamos o que ela tenta comunicar. O sujeito sofre porque há algo em seu entorno que não é dito, mas sentido.

A escola que ignora o sofrimento do aluno hiperativo. A empresa que cobra produtividade enquanto sabota o bem-estar emocional. A família que exige obediência sem escuta. Todos esses cenários geram sintomas. O sujeito não está doente isoladamente, ele adoece em rede.

A cura, no sentido psicanalítico, não é simplesmente eliminar o sintoma, mas permitir que o sujeito ressignifique sua posição diante do ambiente. Isso pode implicar mudar a forma como se relaciona, dizer o que nunca pôde ser dito, ou mesmo transformar radicalmente sua rotina.

Em muitos casos, ajustar o ambiente é o primeiro passo para a escuta do desejo. Tirar a criança de um ambiente opressor. Retirar-se de uma relação abusiva. Reorganizar prioridades. A medicação pode silenciar o sintoma, mas a escuta analítica revela a causa.

A analogia proposta na postagem de Matheus Barbosa nos convoca a repensar nossa forma de lidar com o sofrimento humano. Precisamos, como analistas, pais, professores ou amigos, parar de tratar o indivíduo como um ser isolado, desconectado de sua história e de seu entorno.

Tratar a “água” em que o sujeito vive é, muitas vezes, o que pode salvar o “peixe” de adoecer. Escutar, acolher e transformar o ambiente são atos terapêuticos tão importantes quanto qualquer intervenção clínica.

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