Vivemos em uma sociedade que, desde cedo, nos ensina a agradar: ser bons filhos, bons alunos, bons profissionais. O problema surge quando esse “ser bom” se traduz em anular desejos próprios para atender às expectativas alheias. A frase que inspira esta reflexão “Às vezes adoecemos emocionalmente porque fomos educados para fazer todo mundo feliz, menos a nós mesmo” aponta para uma dinâmica psíquica profunda que, muitas vezes, passa despercebida.
A formação do sujeito e o desejo do outro
Segundo a psicanálise, desde o nascimento, o sujeito é atravessado pelo desejo do outro inicialmente, o desejo dos pais ou cuidadores. A criança aprende que, para ser amada e aceita, precisa corresponder a esse desejo. Aos poucos, ela internaliza a ideia de que precisa “ser o que o outro espera”. Essa experiência forma o que Lacan chamou de “ideal do eu” uma imagem que o sujeito tenta alcançar, muitas vezes às custas do próprio desejo.
O custo psíquico de se anular
O esforço constante para agradar os outros pode resultar em um afastamento progressivo do próprio eu. Quando o sujeito vive apenas para responder ao desejo do outro, sem espaço para reconhecer ou realizar seus próprios anseios, a angústia aparece. Ela é o sinal de que algo está em desacordo entre o desejo inconsciente e a vida concreta.
Essa angústia, quando ignorada ou reprimida, pode evoluir para sintomas emocionais mais graves, como ansiedade, depressão, crises de pânico e até somatizações. Em outras palavras, o corpo começa a falar o que o sujeito insiste em silenciar.
O retorno ao desejo
A cura, na perspectiva psicanalítica, não está em simplesmente “parar de agradar os outros”, mas em reconhecer o próprio desejo e dar-lhe lugar. A análise é o espaço onde o sujeito pode, pouco a pouco, se ouvir, questionar as identificações que fez ao longo da vida e construir uma nova forma de estar no mundo mais autêntica, mais livre.
A frase mencionada no começo deste artigo viraliza em redes sociais porque toca em uma dor silenciosa e coletiva: a de termos nos afastado de nós mesmos para sermos aceitos. A psicanálise convida à escuta não apenas do que dizemos ao outro, mas do que silenciamos em nós. É nessa escuta que começamos a sair do adoecimento emocional e caminhar rumo a uma vida com mais verdade e sentido.