Ansiedade e a pressa de viver: quando não conseguimos esperar

 Vivemos em um tempo marcado pela urgência. Tudo precisa ser imediato: a mensagem respondida em segundos, o pedido entregue no mesmo dia, o resultado alcançado sem demora. Esse ritmo acelerado se conecta diretamente à ansiedade, que pode ser entendida como a pressa de viver.


Afinal, por que algumas pessoas sofrem tanto quando precisam esperar? O que há por trás dessa dificuldade de lidar com o tempo? A psicanálise traz respostas importantes para essa questão.

A relação entre ansiedade e o tempo

A ansiedade se manifesta quando o sujeito não consegue habitar o presente. A mente corre adiante, antecipando cenários, imaginando problemas, exigindo soluções imediatas.

Esperar se torna um peso, porque o vazio entre o agora e o futuro é vivido como insuportável. Nessa pressa, a vida deixa de ser experimentada no momento presente e passa a ser uma corrida sem linha de chegada.

O desejo de antecipar tudo

Na visão psicanalítica, a ansiedade está ligada ao desejo de controlar o imprevisto. O ser humano, desde cedo, aprende que o mundo é cheio de incertezas. Para lidar com isso, muitos criam a fantasia de que, se pensarem em tudo antes, evitarão surpresas desagradáveis.

Mas a tentativa de antecipar tudo gera justamente o contrário: sobrecarga, angústia e esgotamento. A pressa se torna um sintoma de quem não suporta o “não saber”.

A infância e a pressa de viver

Muitas vezes, essa pressa nasce na infância. Uma criança que não recebeu a devida atenção quando chorava, por exemplo, pode ter registrado a experiência de esperar como algo angustiante.

Assim, no adulto ansioso, a espera reativa esse antigo desamparo. A sensação de que nada vai chegar, de que não haverá resposta, retorna como angústia. O resultado é uma vida guiada pela urgência: tudo precisa ser resolvido agora.

O papel do imediatismo na sociedade atual

Vivemos em uma cultura que valoriza a pressa. O mercado oferece soluções instantâneas, os aplicativos encurtam distâncias e a internet promete respostas rápidas.

Nesse cenário, a paciência parece uma virtude em extinção. Quem não acompanha o ritmo frenético sente que está ficando para trás. Isso reforça a ansiedade e o sentimento de inadequação.

O vazio entre o agora e o depois

Na psicanálise, podemos entender a espera como o espaço do desejo. É no intervalo entre o que temos e o que queremos que o sujeito se movimenta, cria, busca.

No entanto, quando esse intervalo é vivido como vazio insuportável, a ansiedade explode. O sujeito não suporta o “entre”, precisa saltar direto para a satisfação, mesmo que ela nunca seja plena.

Como ressignificar a espera

A psicanálise propõe uma mudança de olhar. Em vez de ver a espera como sofrimento, podemos entendê-la como parte fundamental da vida psíquica.

  • Esperar permite elaborar o desejo: é no tempo de espera que se descobre o que realmente importa.
  • O intervalo pode ser fértil: muitas ideias criativas surgem quando não estamos apressados em encontrar respostas.
  • O presente ganha valor: quando aceitamos que o futuro não é controlável, conseguimos viver mais o agora.

Estratégias práticas para quem vive na pressa

Embora a psicanálise seja um processo profundo, algumas atitudes do dia a dia podem ajudar a reduzir a ansiedade ligada à urgência:

1. Respirar antes de agir

Um simples exercício de respiração consciente pode trazer de volta a sensação de presença.

2. Reorganizar expectativas

Nem tudo precisa ser resolvido no mesmo instante. Perguntar-se: “Isso realmente é urgente?” já reduz a pressão.

3. Aceitar o limite do tempo

Reconhecer que o tempo é necessário para amadurecer decisões e processos é libertador.

4. Cultivar o ócio criativo

Momentos sem pressa não são perda de tempo, mas espaço fértil para a mente descansar e criar.

A ansiedade e a pressa de viver estão profundamente conectadas. Quando não conseguimos esperar, estamos na verdade tentando escapar da falta, do vazio e da incerteza que fazem parte da vida.

A psicanálise nos mostra que não é possível eliminar o “entre”, mas é possível ressignificá-lo. Aprender a habitar o tempo presente, sem se deixar consumir pela pressa, é um caminho para reduzir a ansiedade e viver de forma mais autêntica e leve.

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