Como se proteger de quem te sabota? Descubra o efeito da Síndrome de Procusto

Proteger-se emocionalmente é tão importante quanto se proteger fisicamente. Em ambientes sociais ou profissionais, algumas pessoas vão tentar frear seu crescimento. Entenda como isso se relaciona com a Síndrome de Procusto e como se posicionar de forma madura e consciente.

Nem sempre quem te critica quer te ajudar. Às vezes, é só medo de ver você crescer.

Carta do leitor:

“Olá. Estou passando por uma situação que me deixa angustiado. No meu trabalho, sempre que consigo algum destaque ou proponho uma ideia nova, tem uma pessoa da equipe que parece fazer de tudo para desvalorizar ou criticar o que eu faço. Às vezes ela faz isso de forma aberta, outras vezes mais sutil, como se fosse uma brincadeira, mas sempre acaba me colocando para baixo. Eu não entendo o motivo, porque tento ser humilde e colaborar com todo mundo. Já cheguei a pensar que estou exagerando, mas conversando com outras pessoas percebo que isso só acontece comigo. Sinto que, quanto mais eu tento melhorar, mais essa pessoa tenta me diminuir. Isso me deixa confuso, às vezes até querendo desistir do que estou fazendo.”

Comentário com olhar psicanalítico:

O que você relata é um exemplo bastante claro do que se conhece popularmente como “síndrome de Procusto”. Na mitologia grega, Procusto era um personagem que ajustava seus hóspedes à força: se eram maiores que a cama, ele cortava suas pernas; se eram menores, ele os esticava. Na psicanálise, não usamos essa expressão de forma técnica, mas ela ilustra muito bem certos mecanismos inconscientes que podem aparecer em situações de inveja, rivalidade e agressividade disfarçada.

No seu caso, essa pessoa parece se sentir ameaçada quando você se destaca ou traz algo novo. Isso ativa nela uma espécie de defesa inconsciente contra o sentimento de inferioridade. Em vez de elaborar essa sensação, ela prefere cortar o outro, ou seja, diminuir quem se sobressai, para que tudo volte a um estado onde ela se sinta segura.

Esse comportamento tem raízes em dinâmicas psíquicas profundas, muitas vezes ligadas à dificuldade de lidar com o desejo e a castração simbólica. Quem vive preso à lógica de Procusto não suporta ver no outro aquilo que gostaria de ter ou ser, mas não consegue alcançar. Em vez de elaborar isso através da reflexão ou do trabalho, parte para o ataque, usando desde críticas sutis até sabotagens abertas.

Do seu lado, a sensação de confusão e culpa por se destacar é algo que também merece atenção. É comum que, diante desse tipo de situação, a vítima internalize uma espécie de autocensura: “será que estou querendo aparecer demais?”, “será que estou sendo arrogante?” quando, na verdade, está apenas exercendo suas capacidades naturais.

Na perspectiva psicanalítica, situações assim podem levar a uma espécie de “auto-podamento”, onde a pessoa começa a limitar o próprio desejo para não sofrer com a agressividade do outro. Freud já apontava para esse mecanismo, quando falava dos efeitos do super Eu severo e da hostilidade social internalizada.

Para refletir:

Reconhecer que existe essa dinâmica já é um passo importante. Nem sempre é possível mudar o comportamento do outro, mas é possível fortalecer seu próprio eixo subjetivo, para não cair na armadilha de se diminuir para caber na “cama” de alguém que não suporta a diferença.

Buscar ajuda em um processo analítico pode ajudar a lidar melhor com essas situações, ampliando a consciência sobre seus próprios limites e desejos. Afinal, como nos lembra Lacan, é fundamental sustentar o próprio desejo, mesmo quando ele incomoda o Outro.

Se você já viveu algo parecido ou quer compartilhar sua história, escreva para odivaaberto@gmail.com. Aproveite e acompanhe O Divã Aberto nas redes sociais para mais reflexões e conteúdos sobre psicanálise no seu dia a dia.

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