A frase “Se eu posso me tratar melhor do que você me trata, eu não preciso de você” carrega uma força psíquica silenciosa, mas transformadora. Ela não é apenas sobre romper relações, mas sobre despertar. Sob o olhar da psicanálise, trata-se de um movimento subjetivo importante: reconhecer o próprio valor diante de um outro que falha continuamente em oferecer respeito, cuidado ou afeto.
Sigmund Freud já nos ensinava que o sofrimento neurótico está ligado à repetição de padrões inconscientes. Muitas vezes, toleramos relações destrutivas por fidelidade a figuras significativas da infância, como pais ausentes, controladores ou emocionalmente negligentes. Esperamos que o outro atual conserte as feridas antigas, mas no fundo estamos repetindo o desamparo original.
Jacques Lacan nos lembra que o sujeito é dividido e que o desejo do Outro tem um papel crucial na formação do eu. Quando alguém aceita permanecer numa relação onde é maltratado, talvez esteja buscando uma confirmação de existência no olhar do outro, mesmo que esse olhar seja cruel. A frase em destaque, portanto, rompe com esse ciclo: o sujeito se olha. Ele se reconhece capaz de dar a si mesmo aquilo que buscava em vão no outro.
Isso não é egoísmo. É maturidade psíquica. É o momento em que o sujeito se pergunta: "o que eu ganho em permanecer nesse lugar de sofrimento?" e ousa sair da repetição para escrever uma nova história.
Há um ponto de virada: o amor-próprio, tão banalizado nas redes, é um processo interno, profundo e muitas vezes doloroso. Implica em reconhecer que, por mais que o outro prometa mudar, há um limite onde o nosso silêncio deixa de ser nobre e passa a ser cúmplice da nossa própria dor.
Cuidar de si não é se isolar, mas escolher vínculos que nutram. Amar não é se submeter, mas construir trocas saudáveis. E dizer “eu não preciso de você” é um ato de liberdade quando essa presença só reforça feridas internas.
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