"Às vezes, sinto como se falasse uma língua que ninguém entende. Tento explicar como me sinto, mas as pessoas minimizam, mudam de assunto ou me dizem que é só uma fase. Já nem sei se vale a pena tentar me expressar. Parece que estou sozinho num mundo onde todos seguem suas vidas normalmente, enquanto dentro de mim existe um turbilhão. Já pensei até que talvez o problema esteja em mim. Por que é tão difícil ser compreendido?"
Esse foi o desabafo que chegou até nós, enviado por um leitor anônimo que, como tantos outros, sente o peso de viver sem ser compreendido. E talvez você, que está lendo agora, também já tenha sentido isso: a angústia de falar e não ser escutado de verdade. A frustração de tentar se abrir, apenas para receber silêncios desconfortáveis, conselhos prontos ou frases que diminuem a sua dor.
Mas o que acontece dentro de nós quando nos sentimos assim?
Vamos olhar por uma lente psicanalítica.
Quando o desamparo encontra o silêncio do outro
A sensação de que ninguém nos entende não é apenas uma frustração momentânea. Ela toca algo mais profundo, mais antigo: o desamparo primordial, que segundo Freud, nos acompanha desde o nascimento. Desde sempre, precisamos do outro para sobreviver e não apenas para nos alimentar ou proteger, mas para nos reconhecer, nos validar, nos escutar.
Quando falamos e não somos realmente ouvidos, algo dentro de nós se cala. É como gritar dentro de um poço e receber apenas o eco da própria dor. E, aos poucos, vamos internalizando a ideia de que talvez a nossa dor não mereça espaço. Que talvez sejamos exagerados, dramáticos, ou difíceis demais.
Mas não. O que você sente é legítimo. E, sobretudo, você merece ser escutado.
O eco vazio da incompreensão
Muitas vezes, a ausência de escuta nos faz questionar até nossa própria identidade. Começamos a nos perguntar:
“Será que estou errado em me sentir assim?”
“Será que ninguém nunca vai me entender?”
Essas perguntas, na verdade, escondem um pedido de socorro. Um clamor silencioso por conexão. Por alguém que não apenas ouça as palavras, mas consiga decifrar o que há por trás delas: medo, tristeza, solidão, cansaço.
Falar é resistir
Apesar de tudo, há um gesto muito potente aqui: o de falar. De escrever. De tentar, mesmo quando o mundo parece surdo.
Na psicanálise, entendemos que ser escutado é mais do que ser ouvido. É ser acolhido em sua subjetividade. É ser reconhecido em sua dor e em sua história.
E quando essa escuta não acontece, o que se instala é uma espécie de luto simbólico: o luto por uma compreensão que não veio, por um olhar empático que não chegou, por um afeto que não se fez presente.
O caminho possível
Se você se sente assim, saiba: não é fraqueza buscar ajuda.
Pelo contrário, reconhecer a própria dor e buscar um espaço de fala segura é um ato de coragem.
Esse espaço pode ser uma análise, um grupo terapêutico, uma conversa honesta com alguém de confiança ou mesmo aqui, no O Divã Aberto. Este blog existe para que vozes como a sua não se percam no vazio.
Você não está só. Há muitas pessoas vivendo a mesma sensação.
E há também escutas dispostas a acolher sem julgamento.
Então, continue. Continue tentando. Continue existindo.
Porque cada palavra que você ousa dizer já é, por si só, um grito contra o silêncio.