“Por que me excluem?” O que a Psicanálise nos revela sobre convites, silêncios e exclusões sociais

 


Você já parou para observar onde você é chamado e onde é ignorado? Já sentiu aquele desconforto silencioso ao descobrir que houve uma reunião, uma festa, um grupo... e você ficou de fora? Essa experiência, aparentemente cotidiana, diz muito sobre nossos afetos, nossos laços sociais e, principalmente, sobre nós mesmos. A Psicanálise tem muito a dizer sobre isso.

O desejo de ser incluído: herança da infância

Desde a infância, ansiamos por pertencimento. A criança deseja ser vista, aceita, escolhida. O bebê chora não apenas por fome, mas porque precisa que alguém responda ao seu chamado — que o reconheça como sujeito. Quando esse reconhecimento falha, nasce o sentimento de exclusão, que pode se repetir na vida adulta de maneira inconsciente.

A sensação de estar fora de um grupo pode reativar feridas emocionais primitivas, despertando sentimentos de rejeição, abandono ou inadequação. Muitas vezes, o incômodo de não ser convidado não tem tanto a ver com o evento em si, mas com aquilo que ele representa no nosso psiquismo: “Eu não sou importante?”, “Por que não pensaram em mim?”, “O que há de errado comigo?”

O lugar do outro na nossa construção

Na psicanálise, aprendemos que o sujeito se constitui a partir da relação com o Outro. Ser excluído, então, não é só estar fora de um lugar físico, mas sentir-se excluído do olhar do Outro — esse olhar que, desde sempre, nos ajuda a nos constituirmos como sujeitos desejantes.

Entretanto, é preciso cuidado: o fato de não sermos chamados não significa necessariamente que há uma rejeição. Às vezes, é apenas um deslocamento natural dos vínculos. Outras vezes, sim, é um sinal de que nossa presença não é desejada naquele contexto — e isso precisa ser visto com maturidade.

Quando a exclusão nos protege

Nem sempre ser deixado de fora é algo ruim. Pode ser, inclusive, um movimento saudável da vida psíquica. Estar fora de certos espaços pode nos livrar de relações tóxicas, ambientes disfuncionais e papéis que já não cabem mais.

A psicanálise nos convida a fazer perguntas mais profundas:
🔍 Por que isso me incomoda tanto?
🔍 Estou buscando validação externa o tempo todo?
🔍 Estou me forçando a pertencer a lugares que não me querem?

Quando nos damos conta disso, começamos a reconstruir nosso desejo a partir de nós mesmos — e não da expectativa do Outro.

Ser deixado de fora pode ser um recomeço

Ser ignorado pode ser doloroso, mas também pode ser uma chance de redirecionar nossa energia para relações mais recíprocas. Talvez, no fundo, o que precisamos não é mais convites, mas mais consciência do nosso valor.

Como dizia Lacan, “o desejo do homem é o desejo do Outro” — mas é preciso aprender a não ser refém desse desejo. Há um ponto onde o sujeito deve se responsabilizar por si mesmo, reconhecer seu lugar no mundo e decidir onde realmente quer estar.


Na dúvida, observe.

A psicanálise não te ensina a reagir, mas a compreender.
E ao compreender, você escolhe melhor seus caminhos — inclusive onde quer (ou não quer) estar.

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